A suspensão por alguns dias do sistema de coletiva seletiva do lixo de Mogi das Cruzes é prejudicial. Não se trata, aqui, da questão judicial porque é fundamental que não paire dúvida sobre a contratação de toda prestação de serviços feita com o dinheiro público e, neste caso, a cooperativa que irá operar a usina que separa o lixo e cumpre aquilo que não Mogi ou o Brasil mas, o mundo precisa: a proteção do planeta por meio de um consumo mais inteligente e menos degradante dos recursos naturais. 

A terra é organismo finito e a geração irrefreada de materiais que demoram mais tempo para serem recompostos abrevia o tempo e desqualifica a vida, impacta rios, oceanos, ar, o clima, a natureza.

O que está acontecendo nesse setor em Mogi das Cruzes, primeiro com a suspensão da triagem e a redução da coleta do lixo seco durante alguns dias, e depois a contratação paliativa de uma cooperativa que irá operar de maneira voluntária, sem custos, atinge uma política pública que poderia ser mais do que é. 

Embora uma boa parcela da população separe o lixo nos dias corretos da coleta úmida e seca; a maior parte ainda não faz isso justamente por desacreditar de um sistema que atinge um índice pequeno do total que poderia ser reciclado.

A coleta unificada, ainda que durante poucos dias;  mesmo pouquíssimo divulgada pelo governo municipal, reflete negativamente na percepção popular sobre um serviço público que já não tem grande engajamento. 

Outro efeito negativo é no atendimento aos cooperadores, pessoas que trabalham na reciclagem e são contratadas para atuar na separação dos materiais que podem ser reutilizáveis.

A um ano e meio do final da atual gestão, a Prefeitura de Mogi precisará correr ainda mais para cumprir a promessa feita em 2021 quando o compromisso era de se dobrar o índice de coleta de material reciclável de 10 toneladas por dia para 20 toneladas até o final de 2023. 

Com a troca de cooperativa, a Prefeitura iniciou o cumprimento de parte deste compromisso, com o aumento do número de trabalhadores.  A interrupção, no entanto, esvazia o plano para um setor que segue nevrálgico. Até hoje, a cidade ainda encaminha o lixo para aterros de fora e não conseguiu avançar no encontro de uma solução mais econômica e compatível com a meta de produzir o mínimo de detritos possível.

Nesse quesito, aliás, pouco progride a Política Nacional de Resíduos Sólidos, que prevê que cada município cuide de seu quadrado - ou seja, nada de ficar levando o lixo daqui para poluir o solo e os mananciais a quilômetros de distância.

O que está acontecendo com a coleta de lixo deve servir de lição para que o tema seja tratado com a prioridade e a seriedade que requer. Inclusive, com o rápido empenho da Prefeitura para explicar à Justiça a questão da contratação da cooperativa e resolver esse assunto. Por mais que a população se distraia com tantas pautas complexas como a insegurança nos bairros, a degradação dos rios e córregos que seguem malcheirosos e cheios de lixo, e a dilapidação dos túmulos nos cemitérios, o lixo é algo que afeta todos os dias, a vida de todos os mais de 480 mil habitantes.